Vivo em constantes colírios visuais, com eternas sementes de bem-estar que são plantadas no coração. Estrelas cadentes vindas de galáxias distantes formam remoinhos à minha volta. Terei tudo eternamente, nada me será roubado. Então porque é que de vez em quando choro e me sinto amargurada? Ilusão, vivo numa ilusão!
Carrego mortos, saudades, lembranças de momentos e pessoas que pensava serem meus. Burrice! Não tenho nada, apenas a ilusão de que algo me pertence!
Incompreensível vivermos obcecados em relação àquilo que apelidamos de nosso. Nunca o será!
Iludimo-nos buscando e acreditando ter algo eternamente junto a nós. O eterno existe?
Morremos, tudo acaba; como é que algo ou alguém será nosso para sempre? O que controlamos? Nada, não somos donos de nada, mas acreditamos ser donos de tudo...
É fácil iludirmo-nos, não encararmos a realidade, não pensar nas coisas. É mais fácil, à partida viver na inconsciência.
O cerne do problema é que quando vivemos em ilusão, acabamos por não atribuir o real valor que as coisas têm. Pior, por vezes temos tendência a sugar infinitamente e possessivamente as pessoas, os momentos, os objectos, e aí perdemos ainda mais porque até na ilusão as coisas acabam, por mais que sejam substituídas infindavelmente. Acaba por ser uma bola de neve que nos conduz ao devaneio, a um estado de desequilíbrio.
Chega a solidão e não sabemos lidar com ela.
E se encararmos inicialmente a realidade? Não será possível aceitar que as coisas têm o seu termo e que têm de ser vividas no seu máximo esplendor enquanto duram?
Agarramo-nos em demasia ao passado e esquecemos de olhar para o futuro. A possessividade agonia-nos e prende-nos nas suas teias ardilosas.
A vida serve para aprendermos, não para ficarmos presos a ela. Os momentos e as pessoas para nos ajudarem nessa aprendizagem, não para nos ampararem como se fossem a nossa bengala. Muitas das vezes é isso que queremos: amparo perante a nossa covardia, daí ambicionarmos que tudo dure para sempre, que as coisas estejam sempre ali de mão beijada, sem ser preciso batalhar por elas. Não somos capazes de avançar sozinhos, de arriscar de ir de encontro ao novo. Em suma: iludimo-nos, criamos realidades paralelas.
A ilusão e a possessividade servem como um hipotético antídoto perante a covardia.Não se resolvem medos, frustrações, o que seja, escondendo-os debaixo do tapete, ou sendo possessivo. É necessário aprender a lidar com a vulnerabilidade. Há coisas que são inevitáveis, cabe a cada um de nós retirar o melhor possível dessas situações nefastas.
Olhos abertos para tal, jamais ofuscados perante uma ilusão cor-de-rosa que cedo ou tarde se transformará em cinzenta.
sábado, agosto 26, 2006
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3 comentários:
:) Pois é.. ja cheguei a conclusão que o ser humano é um bicho estúpido, que a razão é uma droga sem a qual nao consegue viver.. que é amaldiçoado com aquilo que o distingue dos outros animais com quem partilha o planeta, a consciência das coisas, consciencia essa que eu me pergunto se nao será uma fabrica de ilusões para apenas nos fazer viver mais.. e por vezes prolongando a nossa agonia neste mundo de confortos falsos, de manteigas, de plasticos, de veludos e baton's.. quando na verdade o mundo é uma realidade dura até para o mais duro dos homens, e a unica maneira de ele nao ser assim e o Homem conseguir sobreviver é no seu coração e no mundo dos seus sentimentos.. porque o homem é um ser sensivel, que nao aguenta bem o separar-se das coisas que o rodeiam.. as vezes esquece-se que quanto mais possui neste mundo, mais é possuido por essas mesmas coisas, e que nao vale a pena fazer investimentos deste tipo sem ser no coração, sem ser valores e sentimentos.. porque estes sim são tudo o que o homem precisa para viver e também mais orgulhosamente esconde, para ser falsamente forte aos olhos do outro, para ser mais que o outro mostra ser mais frio quando deveria ser o contrario.. a vida é feita de grandes ironias! mas na verdade todo o mundo é um palco volátil e precário.. onde tudo vai e vem com uma velocidade estonteante, e cabe-nos a nós fazermos alguma diferença, sermos pilares de força com o nosso querer para modificarmos as coisas e para podermos dizer que nao nascemos em vão.
*
Não digas que não Dé... Já passamos por tanta coisa que pensavamos ser impossível. Já superamos tantos obstáculos... não me parece que exista o impossível...
A questão é que muito provavelmente, antes, nem sequer eu ou tu pensavamos naquilo que hoje aqui está escrito... Crescemos, levamos porrada e aprendemos... A vida apresenta-se de outra maneira e sinceramente apetece-me encara-la de frente :) Somos teimosas, arrogantes, manientas (segundo os outros), mas temos uma grande virtude: lutamos, mesmo nos momentos em que tudo parece n ter solução encontra-se sempre um caminho... :)
Este texto é mais um objectivo a ser alcançado... desafio-te... bora tentar superá-lo :P
Realidades paralelas...porque no fundo não somos capazes...bateu em cheio...mas no fundo pergunto-me sempre se não serei capaz, ou se a minha cobardia bloqueia aquilo que se melhor há em mim...
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