Ao limpar o pó, deparo-me com uma velha fotografia a preto e branco exposta no mural de mogno, já um pouco velho (onde guardo imensa quinquilharia) que se encontra no Hall de entrada.
Emoldurada no Inverno passado, um pouco desfocada e muito cinzenta, eu diria mesmo em tons de preto, de uma negridão profunda e sentida, quiçá aniquiladora…
Olho para essa fotografia e recordo-me dos dias cinzentos onde a trovoada me consumia, onde sozinha era engolida pela boca do silêncio; onde os meus uivos constantes eram sentidos nas profundezas dos mares, remoendo-os desenfreadamente a um ritmo diabólico digno de uma destruição massiva.
As nuvens ocultavam a profundidade dos céus, intensificavam a escuridão, transformavam tudo ao redor numa campa funerária; faltava no entanto a terra para cobrir e proteger o meu corpo da amargura que sentira.
Eu via a Lua de raspão, no entanto, esta olhava-me fixamente, entrava na minha mente e dizia-me constantemente a verdade que eu tento insistia em colocar para trás das costas… Acho que lhe dava prazer torturar-me, possivelmente sentir-se-ia triunfante, imperiosa quiçá.
Pensara eu que ela gostava de mim… ó ilusão! A punhalada vem quase sempre donde menos esperamos e muitas das vezes é fatal…
Vertera sangue durante muito tempo sobre a encosta abaixo… este arrastava-se depois com o vento que fortemente soprava e que muitas das vezes me agredia, tornando o meu corpo cada vez mais débil…
Eu era um pedaço de carne dentro de uma lagoa poluída; não saía dali, permanecia estática perante as agressões, perante o negro, o podre, o sujo… só chorava, e como chorava… o sangue atravessava o meu peito e subia até ao contorno dos meus olhos, deslizando depois sobre a minha face, terminando por fim no chão… a pouco e pouco ficava ensopada, chegando ao ponto de quase me afogar nele…
Permaneci estática por momentos na contemplação daquela foto; eis que uma ideia subita me surge...O tempo passa, sempre passa...
sexta-feira, outubro 20, 2006
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