quarta-feira, janeiro 10, 2007

A folhinha sabedoria e a sua literatura...

Imobilizei a razão para conseguir decifrar as batidas do meu coração. Apressadamente injectei-as numa folha de papel, uma folhinha que se encontrava ao redor, ansiando pelo momento tão esperado. Foi como se desse vida a algo quase adormecido, ou melhor dizendo, em fecundação antiga; uma fecundação já exaustiva e com tempo suficiente para nascer. Mas o que importa é que nasceu, meia atordoada, pachorrenta, mas lá nasceu.
A folha, de seu nome sabedoria, era uma mãe orgulhosa e não se cansava de exibir o rebento, o seu bem mais precioso. Radiante, decidiu correr mundo para mostra-lo a quem tivesse interesse em conhecê-lo (se bem quê, cá para nós que ninguém nos ouve… quem é que não vai gostar dum rebento tão meiguinho como o da folhinha? Acho impossível e tu?).
Aí, mas deixa-me cá continuar a minha narração… isto, uma pessoa perde-se e depois é complicado… são os anos, os anos e a cabeça que já não é o que era…
Bem, a Dona folha lá decidiu viajar e a primeira oportunidade surgiu quando num belo dia íamos na rua: eu, ela e o rebentinho. A marota que sempre foi dada a um certo descaramento, lá se vira para mim e diz:
- Estás a ver aquele jovem que ali está com a mochila às costas?
- Qual, o da camisola azul?
- Sim, esse mesmo! Quero que me coloques na mochila dele. Vou começar a minha aventura pelo mundo e quero, como já te disse, mostrar o meu filho à humanidade.
- Tens a certeza?
- Sim, tenho!
E assim foi! Confesso que de início tive um pouco de receio, mas lentamente lá coloquei a folha na mala do jovem de camisa azul. Fugi logo em seguida. Lembro-me de, naquele instante de fuga, algumas lágrimas me inundarem a face. É certo que foram segundos, mas acho que os eternizei na minha memória, transformando-os numa doce recordação.
E perguntas-me tu, leitor curioso:
- Que é feito da folhinha?
Bem, a última vez que soube dela, ela estava algures em Marrocos, já tinha corrido a Europa toda e decidira explorar o Oriente. Desde então, nunca mais se soube dela. Ela não para, vive num agito constante; ela e o seu rebento, a literatura.
Agora, aqui sentada, escrevendo-te, cogito:
- E pensar que um dia tive a ideia de trazer à baila pedaços de mim…

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