quarta-feira, setembro 27, 2006

Repenicar a vida ao piano...

Dedilhar sobre o piano, coercivamente Bach. Soltar lágrimas de tristeza na recordação de um tempo que se esconde por detrás das neblinas da solidão.
Os dedos enraivecidos tangem sobre o piano tentando aniquilar a realidade, contrapondo e enaltecendo as reminiscências de uma ilusão juvenil, onde o sol que brotava, encandeava os mais invejosos que de longe cobiçavam a grande casa, a felicidade, o Glamour.
Um sentimento que brotara calorosamente e que se regara dos melhores momentos caíra em desgraça, num pântano de inacessível acesso…
Executa-se a música calorosamente sobre o instrumento.
Inopinadamente tudo se finda e resta do quadro de família feliz à beira do lago contemplando a natureza, pedaços rasgados que se espalharam pelo velho sótão empoeirado onde se encontra o piano… a única fonte de lembrança de um tempo onde o cheiro a jasmim se espalhava ao redor de uma casa, de uma família.
Como reduzir um palácio a um sótão? O brilho ao escuro?
Chora-se profundamente e a força já é pouca para repenicar sobre o piano. Pousa-se a cabeça sobre as teclas… solta-se um timbre desafinado, descompassado...
Agonia, solidão, vazio, desnorteamento… O Minuete transformou-se em Marcha Fúnebre e impediu o artista de continuar a dançar fazendo vibrar o seu coração...
Porquê? Por que motivo todas as músicas alegres se tornam éfemeras dando lugar a um eco desafinado e vazio que insiste em reinar?

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