quarta-feira, setembro 27, 2006

Repenicar a vida ao piano...

Dedilhar sobre o piano, coercivamente Bach. Soltar lágrimas de tristeza na recordação de um tempo que se esconde por detrás das neblinas da solidão.
Os dedos enraivecidos tangem sobre o piano tentando aniquilar a realidade, contrapondo e enaltecendo as reminiscências de uma ilusão juvenil, onde o sol que brotava, encandeava os mais invejosos que de longe cobiçavam a grande casa, a felicidade, o Glamour.
Um sentimento que brotara calorosamente e que se regara dos melhores momentos caíra em desgraça, num pântano de inacessível acesso…
Executa-se a música calorosamente sobre o instrumento.
Inopinadamente tudo se finda e resta do quadro de família feliz à beira do lago contemplando a natureza, pedaços rasgados que se espalharam pelo velho sótão empoeirado onde se encontra o piano… a única fonte de lembrança de um tempo onde o cheiro a jasmim se espalhava ao redor de uma casa, de uma família.
Como reduzir um palácio a um sótão? O brilho ao escuro?
Chora-se profundamente e a força já é pouca para repenicar sobre o piano. Pousa-se a cabeça sobre as teclas… solta-se um timbre desafinado, descompassado...
Agonia, solidão, vazio, desnorteamento… O Minuete transformou-se em Marcha Fúnebre e impediu o artista de continuar a dançar fazendo vibrar o seu coração...
Porquê? Por que motivo todas as músicas alegres se tornam éfemeras dando lugar a um eco desafinado e vazio que insiste em reinar?

sábado, setembro 16, 2006

O paladar do amor...

Discussão acesa, sentimentos desenfreados...
Um Arco-íris de palavras pronunciadas na chuva
Da emoção foi calado pelo beijo molhado que
Trouxe em silêncio o amor...

Que as nossas bocas se selem unidas para sempre,
Acasalando o amor e a ternura...
Eis as faíscas constantes de loucura
Bradadas pelos nossos corações!


Na tua boca início a caminhada
que me conduz ao topo da montanha onde

se encontra o teu coração.
Lá, gritarei bem alto que te amo...
sente-o!

Receita do coração


Emaranhar um amontoado de desilusão em torno de um coração, juntar-lhe pitadas de tristeza com um pouco de sal de solidão.
Cozinha-se tudo em lume brando, até que subitamente o lume é elevado fazendo entrar em ebulição os ingredientes que outrora tinham sido colocados dentro do caldeirão do pessimismo.
À parte, na panela da Medusa cozinha-se a agonia e o medo a temperaturas altíssimas. Despontam escaldando...
São então colocados violentamente sobre o caldeirão do pessimismo, onde já se encontrava o coração imbuído nos restantes ingredientes.
Solta-se sobre a atmosfera um cheiro a saibo misturado com bolor…
Do caldeirão passa-se para um recipiente; fervilhando o coração é colocado numa arca frigorífica a temperaturas dignas do Pólo Norte.
Ali permanecerá até se solidificar. O processo que se sucede é a frieza.
Será que esse coração ficará para sempre gélido, ou haverá algo capaz de o fazer palpitar fortivamente uma outra vez?

sexta-feira, setembro 08, 2006

Laços desatados...

Laços de ternura desprendidos
São quedas abruptas nas mais
Imundas calçadas da vida...
São chapadas perante o desgosto...
São úlceras viscerais num
Coração que chora na solidão.
A tristeza assume o papel principal
E o espectáculo termina num gemido sufocado.
Há um nós que se quebra
Originando agora um "eu" e um "tu" distanciados.
Fica o fantasma do medo e a desconfiança
Em relação ao futuro que se avizinha...
Seria do nó que era frouxo?
Seria o tecido de má qualidade?
Não sei... quiça existam laços de ternura
fortes e duradouros, mas possivelmente
Longe daqui...

quinta-feira, setembro 07, 2006

Olhando para a lua...

Olho perante a janela aberta…
Contemplo o céu todo iluminado ao mesmo tempo que sinto uma brisa suave e intensa fustigar-me a cara… é então que penso:
Sentimentos são estrelas cadentes que abraçam os céus enchendo-os de brilho. São pétalas de rosas que se desprendem da razão, correndo sorridentes numa adrenalina constante.
Os sentimentos por vezes fazem-nos verter lágrimas de alegria, outras vezes de tristeza.
Sentimentos são o tocar o teu rosto que dorme suavemente sobre o meu colo. Sentimentos são o doce toque dos teus lábios, a fusão da tua pele na minha. Sentimentos é abraçar-te e sentir que o mundo pode acabar amanhã mas se tiveres ao meu lado até o inferno me parecerá suave e menos intenso do que tu.
Os sentimentos são melodias cantadas a corações apaixonados que vertem lágrimas quando a solidão aperta.
São filhos da Lua: misteriosos, intensos, escondidos, cintilantes, subconscientes; são amigos de Marte que os encoraja para terem força, uma força que os faz mover o universo. São uranianos: mudam tudo ao seu redor...
Ensinados por Júpiter espalham fé e optimismo pelo mundo.
Emoções verdadeiras têm toques venusianos; são doces, cândidas, carregadas de uma intensa jovialidade; são um refrescar da mente e da alma. Brotam no interior do nosso ser, crescem, florescem criando jardins em cada um de nós, seres humanos. São esses sentimentos que nos fazem enfrentar a vida com uma constante vontade de saborear e lutar pelo melhor que esta tem. São sentimentos ensolarados.
Tudo o que é falso causa medo, traumas, devaneio, típicos aspectos saturninos no seu pior. São sentimentos que precisam de efeitos plutónicos; é necessário regenerar-se. É indispensável arrancar as ervas daninhas para que se respire alegria.
Olho para a Lua e pergunto-me: porque escondemos tanto os sentimentos, principalmente os puros e verdadeiros? Porque temos tanto medo? Porque não florescem e se espalham ao sabor do vento, em nós, para todo o sempre?
A Lua com o seu eterno ar de mistério apela:
- Utiliza o teu mercúrio para descobrir tais respostas, no entanto, se este não for suficiente, olha para dentro de ti… tenho a certeza que unindo ambos encontrarás as respostas que procuras…