sábado, julho 22, 2006
O rosto cândido
Ao passar junto a um beco da grande cidade, vejo prostrado no chão um rosto cândido que seguia atentamente todos os movimentos à sua volta. O glamour das pessoas que passavam, os sacos a transbordar de presentes, os sorrisos contagiantes dos transeuntes. Todo o frenesim da grande cidade era visto ao mais infímo pormenor por aquele rosto, aquele olhar profundo e sôfrego...
Tentava constantemente esconder-se do frio que cada vez mais se intensificava.
Pouca roupa, lábios secos, de longe conseguia-se ouvir o tiritar de frio daquela pobre alma.
Lembro-me de ter parado a observá-lo... tremia incessantemente mas não parava de olhar o mundo à sua volta...
Várias vezes pediu comida, no entanto, a sua imagem era invisível aos olhos dos que passavam.
Os olhos ávidos, uma alma triste e uma barriga vazia; tudo isto reflectido num ser pequenino.
Uma criança que merecia amor, educação e comida, viu-se simplesmente atirada para uma sargeta. Foi obrigada a ver a fartura dos outros, sem que um pedaço de pão sobrasse para enganar um estômago à muito vazio.
Um anjo que se viu destinado ao inferno onde impera a soberba e a ganância.
O que para a sua ingenuidade era uma imagem de um mundo de sonho onde este gostaria de entrar, para mim não passa de um quadro negro e podre que todos os dias insistimos em pintar, cobrindo-o em seguida com cores último grito da moda...
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1 comentário:
Seria tudo tão mais fácil se o egoísmo acabasse, de certeza teriamos um mundo melhor!!!
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