sábado, outubro 27, 2007

Anjo maldito! ( Eu disse que voltava :P )

Ele era um rodopiar de sonhos envenenados ao pisar sofregamente as pedras enegrecidas da cidade maldita. O mundo girava num ponteiro oposto aquele que lhe rodava na alma e era difícil não alienar-se.
Carlos era jovem, inteligente, mas havia algo obscuro que lhe contorcia o olhar. Um mundo paralelo, quiçá, que se apossava dele e o fazia galgar um solo onde não vivia, apenas andava.
O seu passo era lento mas forte, a sua expressão facial cerrada e o negro descrevia inequivocamente a magnitude da sua interioridade.
Lembro-me que o pensei várias vezes como personagem de um romance. Talvez um romance sobre o acaso. Carlos era um acaso, uma miragem, um sonho. Uma espécie de anjo-demónio que te vem buscar, que te envolve fazendo-te viajar por entre a obscuridade da vida, mas que de repente te solta e desaparece. Um acaso, isso mesmo, um doce amargo acaso!
O seu olhar engolia-me exaltando o melhor e pior de mim. Destabilizava-me! Ele era um verso de Pessoa escrito numa noite poeticamente assolapada de dor.
Se fechar os olhos ainda consigo encontrar aquele olhar que me queimava com um ódio carregado de desejo.
Um Anjo maldito que me rouba a alma por instantes, imbuindo-a em pensamentos...